OS NOSSOS PROFUNDOS AGRADECIMENTOS AO ESCRITOR NILTO MACIEL
ENTREVISTA DOS ALUNOS DA TURMA 901/2011-
DO CIEP BRIZOLÃO 121- PROFº JOADÉLIO CODEÇO - MARAMBAIA - SÃO GONÇALO-RJ
1º) LUIZ HENRIQUE LIMA DE SOUZA:
a) a) Como se sente ao escrever livros?
NM – Ao escrever, sinto-me muito bem, como se realizasse o melhor dos sonhos.
b) b) Você batalha muito para poder ser um escritor?
NM – Sim, sempre (desde menino) leio e escrevo muito. Para me fazer e manter escritor estudei muito e trabalhei muito.
c) Qual é o seu objetivo na vida?
NM – Há vários objetivos. O primeiro, ou o mais importante, é viver como ser humano. Não quero ser herói ou astro (famoso), porque a vida é muito curta para o heroísmo e a fama.
2º) ANTONIO CARLOS DE F. SANTOS:
a) a) Para você, qual a importância de escrever um novo livro?
NM – Escrevo todo dia. E todo dia é importante para mim. Não faço distinção entre segunda-feira e domingo, carnaval e natal. Escrever me faz bem, muito bem.
b) b)Qual a importância desse livro na cultura?
NM – Não sei a que livro você se refere, mas meus livros são muito importantes para mim. Como sou sujeito ou personagem da cultura, como faço parte dela, meus livros são importantes também, embora não sejam tão importantes como os de Machado de Assis e outros grandes artistas das letras.
c) c) E que exemplo esse livro pode ser na vida de alguém?
NM – Não escrevo para dar exemplo. Livro não serve para dar exemplo. A não ser como formação intelectual.
3º) GABRIELA DA SILVA REIS:
a) a) Qual foi o seu primeiro livro?
NM – Itinerário, de 1974. São 14 contos curtos.
b) b) A idade em que começou como escritor?
NM – Quando publiquei o primeiro livro eu tinha 29 anos, mas escrevia desde a adolescência.
c) c) Por que você quis ser um escritor?
NM – Eu queria ser jogador de futebol (passei a infância e parte da adolescência a jogar bola). Depois quis ser revolucionário, guerrilheiro (como Che Guevara), para derrubar a ditadura e instalar um governo popular socialista. Mas sempre lendo e escrevendo. Como não consegui ser jogador nem guerrilheiro, dediquei-me a ler e escrever.
4º) DAVID PRADO RIBEIRO:
a) a)De todos os seus trabalhos, qual foi o mais marcante em sua carreira profissional?
NM – Não sou escritor profissional. Mas ganhei alguns prêmios literários. O mais importante deve ter sido o “Prêmio Cruz e Sousa”, do governo de Santa Catarina, com o romance “A Rosa Gótica”.
b) b) Qual a sua sensação ao escrever o conto “O filho da Solitária”? Por quê?
NM – Não digo que senti prazer, porque o personagem é um homem muito sofrido, pois fizeram dele um bicho (e não deveriam fazer isso com animal nenhum), ao prenderem-no numa jaula, solitário, por muitos anos. Senti nojo dos que maltratam pessoas e animais. Muita revolta também.
c) Qual sua perspectiva em relação ao mundo contemporâneo?
NM – Acredito na democracia, no fim das ditaduras, das desigualdades sociais, nos esportes e nas artes como meios de integração social, paz, progresso.
5º) KERLIANE REIS:
a) a) Você algum dia pensou em parar de ser escritor? Por quê?
NM – Não penso em parar, mas um dia deverei parar. Se eu pudesse, seria eterno e escreveria para sempre. Porque é muito bom escrever.
b) b) De todas as suas obras, qual a que mais gosta? Por quê?
NM – Gosto de algumas obras, como o romance “A rosa gótica”, o conto “As pequenas testemunhas” e o poema “Cena doméstica”. Gosto porque gosto e gosto não se discute.
c) c) Qual o seu atual livro a ser lançado no mercado? Qual a sua expectativa?
NM – Meu mais recente livro é “Luz vermelha que se azula”, de contos. Foi escrito já neste século, entre o ano 2000 e 2005. Espero que os leitores gostem dele e que seja lido e estudado nas escolas.
6º) DAYANE ISABELA R. CORDEIRO:
a) a)No início da sua carreira, você teve algum apoio familiar? Ou de alguma outra pessoa? De quem?
NM – Meu irmão Ailton, que faleceu aos 33 anos e era dois ou três anos mais velho do que eu, me apoiava muito.
b) b) Ganhou algum prêmio que significou muito para você?
NM – Já falei do prêmio de Santa Catarina. Eu me senti muito valorizado e passei a gostar mais de mim e do que escrevia. Fiquei tão feliz que acreditei que pudesse transformar em ouro tudo o que eu tocasse, ou seja, escrever obras maravilhosas sempre que quisesse.
c) c) Quando você escreve algum livro, se inspira na vida real?
NM – Sim, tudo vem da vida real. Toda arte vem da vida real, por mais absurda ou fantástica que pareça. Você já viu formigas e urubus comerem um bebê humano? É o assunto do meu conto “Os urubus e Deus”. É um absurdo, não é? Mas acontece todo dia.
7º) KEZÍA DE SOUZA RODRIGUES:
a) a) Por ser escritor, você deve ter muito pouco tempo para o lazer ou não?
NM – Sim, sobra-me pouco tempo para o lazer. Mas consigo gostar de não me divertir. Quando eu tinha 15 anos, ficava em casa a ler, olhava para a rua, via os meninos, queria ir me juntar a eles. Mas terminava desistindo de ir brincar.
b) b) O que é ser escritor no Brasil? Por quê?
NM – Ser escritor no Brasil é ser um sonhador. Porque não há muito incentivo, a escola é pobre, o hábito de leitura é quase inexistente, o livro é muito caro (em relação ao salário mínimo).
c) c) A vida de um escritor é bastante agitada?
NM – Depende de cada escritor. A minha é muito calma. Passo o dia todo em casa a ler e escrever. Uma vez por mês sou convidado a participar de palestras, encontros, lançamentos de livros, feiras, entrevistas, etc.
8º) JHENIFY MESQUITA DE LIMA DA SILVA:
a) a) Você tem algum ídolo, na língua portuguesa?
NM – Tenho diversos ídolos: Camões, Machado de Assis, Fernando Pessoa, Jorge de Lima, Graciliano Ramos e outros.
b) b) Qual foi a história mais estranha que você escreveu?
NM – A mais estranha deve ter sido “Masmorrer”. Um grupo de prisioneiros é abandonado numa prisão e aos poucos vão se matando. Os mais fortes se juntam para matar os mais fracos e comer suas carnes, até que o último morre de fome.
c) c) Já escreveu algo que não tenha gostado?
NM – Muitos poemas são feios, fracos, mas mesmo assim eu não os joguei fora. Porque nossos escritos são como nossos filhos: não podemos jogá-los fora só porque são feios.
9º) DANIELLI LÚCIA DOS REIS LOURO:
a) a) Gostaria de escrever uma obra-prima? Por quê?
NM – Esta pergunta é uma das mais importantes. Sempre penso nisso. Para mim, só vale a pena escrever obra-prima. Entretanto, como não sou gênio, nunca escreverei obra-prima. Como sou bom pai, não desprezo meus filhos feios. Porque são parte de mim. Se eu os desprezar, estarei desprezando a mim mesmo.
b) b) Qual o livro de sua carreira que recomendaria para os alunos? Por quê?
NM – Para os menores “Os guerreiros de Monte-mor”; para os maiores “O cabra que virou bode”. Estou falando apenas dos romances. Não posso falar dos contos, porque não tenho livros temáticos. São muito misturados: contos de amor, eróticos, de violência, de crianças, de velhos, de animais, etc, tudo no mesmo livro.
c) c) O que você gostaria de dizer ao seu leitor?
NM – Como escritor, eu diria: leiam mais e mais, até ficarem velhos. Como cidadão: leiam para a vida, para se tornarem pessoas mais educadas, mais sadias, mais puras, mais solidárias.
10º) VIVIAN SIMÃO CUNHA:
a) a) O que você prefere ser: Escritor ou Professor? Por quê?
NM – Prefiro ser escritor, embora goste também de dar aulas, de falar a pessoas curiosas.
b) Qual o momento mais importante da sua carreira?
NM – Dos muitos momentos importantes de minha vida de escritor destaco o prêmio Cruz e Sousa.
c) c) Quando era criança, você pensava em ser escritor?
NM – Como já disse, quando criança, pensava em ser jogador de futebol. Eu lia por prazer, mas não me passava pela cabeça a possibilidade de escrever como aquelas pessoas dos livros.
11º) LORRANE SANTOS SOUZA:
a) a) Você daria uma palestra em nossa escola? O que seria preciso para que isso acontecesse?
NM – Sim, daria uma palestra ou conversaria com os alunos desta escola, como tenho feito em outras. Porém, moro muito longe daqui, em Fortaleza.
b) b)Qual a diferença de crônica para conto? Por quê?
NM – A diferença entre crônica e conto é muito sutil, quase imperceptível, sobretudo entre o conto sem enredo e a crônica moderna. Se ambos forem em primeira pessoa, a dificuldade de se ver diferenças será maior ainda.
c) c) Quais são os maiores cronistas contemporâneos brasileiros?
NM – Como não leio jornais e revistas, não sei quem escreve crônica no Brasil.
12º) GEISILANE DOS SANTOS BASTOS BARROS:
a) a) Se não fosse escritor o que gostaria de ser? Por quê?
NM – Se não fosse escritor, gostaria de ser compositor de música ou cineasta. A música é a mais bela expressão da arte. O cinema é mais próximo das pessoas do que o livro.
b) b) O que você pensa sobre o poeta Manoel de Barros?
NM – Manoel de Barros é um dos maiores poetas brasileiros ou da língua portuguesa.
c) c) O que você aconselharia a um jovem escritor?
NM – Aconselho paciência (não ter pressa em publicar), mais leituras e exercícios diários de elaboração de poemas, contos, crônicas, artigos.
13º) ANTONIA VILAUBA VIEIRA PEDRO:
a) a) Como você gostaria de ser lembrado pelo povo brasileiro?
NM – Como um ser humano que não quis ser rico, poderoso, político, empresário e muito menos ladrão, e se contentou com arte e amor.
b) b) Em sua opinião, qual a sua obra-prima?
NM – Infelizmente, nunca escrevi nenhuma obra-prima.
c) c) Eu também sou cearense, você veio de uma família humilde?
NM – Prazer em ler a sua pergunta. Sim, vim de família pobre: meu pai era comerciante pequeno (no Ceará se diz bodegueiro ou dono de bodega), filho de agricultores, porém muito preocupado (ele e dona Nenen, minha mãe) com os estudos dos filhos.
14º) THAMIRES BALBINA A. DURVAL:
a) a) Sobre o que você mais gosta de escrever? Por quê?
NM – Sobre os problemas das p-essoas, tais como solidão, angústia, dor psicológica, saudade, amor, porque são assuntos essenciais.
b) b) É verdade que a vida de escritor é solidão?
NM – Nem sempre. Muitos vivem em perpétuo burburinho, porque precisam disso para escrever. Eu prefiro a solidão para viver, pensar e escrever. Para mim, o mais importante no ser humano é pensar. O homem foi feito para pensar e não para correr, saltar, dançar, pular, como os outros animais.
c) c) Leitura e Escrita é...?
NM – Para mim, ler e escrever são essenciais. Essenciais para mim, não para os outros ou a sociedade. Ser escritor é ser diferente dos demais seres. Ninguém é escritor porque quer ser escritor. Os que querem ser escritor não o serão nunca.
15º) VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES:
a) a) Caro Nilto Maciel, para uma pesquisa em Bioecolinguística: o que você aconselharia? Uma entrevista com alunos a um escritor é um caminho? Por quê?
NM – Nunca estudei bioecolinguística nem linguística nem literatura. Acredito, no entanto, ser um bom caminho para o pesquisador uma conversa franca e demorada com alguns escritores, sobretudo aqueles que falam abertamente, sem esconder nada, sem querer apenas aparecer.
b) b) Conte-nos um pouco sobre a sua mais recente obra publicada: qual o nome e como foi construí-la?
NM – Tenho diversas obras mais recentes: contos, crônicas e artigos. Dois volumes de contos: “Luz vermelha que se azula” e outro cujo título deverá permanecer em segredo até ser publicado. Escrevo todo dia. Isto não quer dizer que a cada dia escreva um conto, crônica, artigo ou capítulo de romance. Passo dias e dias a escrever uma peça literária, por menor que seja. No primeiro dia surge a ideia, que anoto em caderno ou no computador. Pode ocorrer a conclusão no mesmo dia ou na mesma hora. Mas prefiro dormir com ela (a ideia), ruminar bem, mastigar, sonhar, pensar mais e no outro dia escrever um rascunho mais robusto.
c) c) É possível deixar aqui uma poesia (desde já, obrigada, do mais profundo de nossos corações)?
NM – Não sou bom poeta. E você pode até ter pensado numa poesia de poeta famoso. Mas, neste caso, você tem tantos livros e a Internet para buscar poemas. Então serei muito egocêntrico (como todos ou quase todos escritores) e apresentarei um poema meu, “Nem sei domar meus próprios cães”:
Para imitar o imortal Camões,
precisaria ser, meus cidadãos,
mil seres juntos, ter mil corações,
hidra gentil – cabeça, tronco e mãos.
Porém sou pobre, sem nenhuns tostões,
vivo perdido em devaneios vãos,
e sem botinas, becas e botões,
como esses loucos que se creem sãos.
E velho estou, cabeça toda em cãs,
como meus pais, avós, as minhas mães,
as utopias, ancestrais e vãs.
Talvez pudesse ser padeiro – pães –,
tecer mortalhas – panos – doutras lãs,
porém domar nem sei meus próprios cães.
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Um beijo a todos e continuem assim inteligentes, sadios, fortes, amorosos, solidários, sem preconceitos.