Caros amigos, Autores, Artilheiros da Cultura.
Informo a vocês que hoje estive em reunião no Forte de Copacabana e
agendamos o Lançamento da Antologia 2014 para a semana de 10 à 14 de fevereiro.
A data exata ainda dependerá da agenda do evento da Passagem de Comando.
Preparem-se, na terça feira, dia 04 de fevereiro, enviarei um e-mail
confirmando a data exata.
Com apreço,
Antonio Pereira -
Coordenador do Centro de Literatura do Forte de Copacabana.
Antologia em Verso e Prosa, 2014.
Autores do Centro de Literatura
do Museu Histórico do Exército e Forte de Copacabana
Antologia em Verso e Prosa, 2014.
Autores do Centro de Literatura
do Museu Histórico do Exército e Forte de Copacabana
Uma palavra para Vivian
Vanda Salles ( Vanda Lúcia da Costa Salles)
A neve cai e seu olhar se perde mais além dos flocos de neve. Atrás
da janela está uma mulher com olhos de louca e expressão de anjo em
véspera de Natal. Sem dúvida, acompanha a solidão e envolve seu corpo
igual fera de mão indomável. Ela que aprendera a suportar a dor maior,
sentia que a ingratidão rasgava o fundo do seu ser. Aprendeu a viver no
mundo com a solidez de seus sonhos, e ela é uma pessoa que deseja ser
uma estrela. Isso é tudo! Uma pessoa excêntrica que busca uma palavra
nova. Uma palavra que se ajuste a seu corpo sensível.
Ela aspira viver uma personagem de sonho. Busca um papel. Um
papel, cujas palavras sejam um caminho para alcançar o estrelato. É um
sonho de infância que se manteve durante a adolescência e agora na
maturidade cresce em seu peito como se fora alimento para a alma,
entretanto sua vida se desmorona igual aos dentes da parte superior de
sua boca porque seu salário não se ajusta. São tempos difíceis, mas esta
mulher se aprimora.
Sabe que viveu cada passo e cada escrita. Anela visitar toda América
e ruas e ruas das mais secretas. Para crer em seus sonhos pensa que uma
amiga ou amigo, alguns deles estarão no aeroporto para dar-lhe boas
vinda. Adquiriu a estranha mania de esperar a aterrissagem dos aviões.
Mirar fixamente a cara de todo mundo, alguns tristes, outros nem tanto.
Cansados, ??afetados, amargurados ou felizes. Pensava “o triste é não ter
a ninguém que nos receba no aeroporto...” Ela um dia iria voar. “Longe,
com certeza”.
Eram poucos os que falavam dessas coisas, chegada e partida. Só
depois de uma viaje cansativa, sem uma mão amiga para convidar-lhes a
tomar uma xícara de café ou uma de chá. Essa realidade feia aterrorizava.
Gostava de uma gostosa e farta xícara de café com leite, manteiga e um
delicioso bolo caseiro de milho, recheado de queijo, quando o dinheiro
chegava.
O pai e a mãe: nunca soube. Não havia tempo para sentir-lhes a
falta. Além de que, nunca aprendera a ler. A ninguém importava dar-lhe
esses ensinamentos. Diziam que as mulheres que não aprende muito cuidam
a seu homem com fidelidade e respeito. Assim se casou aos quinze anos.
Nos primeiros meses ganhou um sopapo que lhe fez ver estrelas. As que
não brilham. Aprendeu a afogar as lágrimas.
Quando seu esposo disse “não te faças de rogada” e aceitou as carícias
do entregador de pizza e exigiu que também se regalasse porque não
havia nada demais, “hoje em dia é assim, uma mulher deve servir aos
caprichos de seu marido sem pestanejar”. E que preferiu criar mais porcos
que cuidar de sua esposa, dera por vencida e fugiu. Definitivamente pensou
“ não vou voltar a casa. Isso não faria, jamais”. Queria mais estar louca.
Ninguém imagina o que se vê detrás da janela de sua habitação de
criada que não possui um espelho, incluindo uma maleta ou um mimo de
mulher coquete. A moradia é pequena, sem mobílias principais. Mas a
dignidade é imensa. Sobre uma mesinha dorme um livro, um caderno e
duas canetas, uma azul e outra de cor negra. São tesouros que guarda
para assegurar a esperança de escrever a frase mais pura e desejada que
explicasse a sua alfabetização. Assim, ninguém a impediria de ser a estrela
mais formosa de sua própria vida.
Vivian, a mulher por detrás da janela aguarda uma visita, por isso
queda-se a mirar mais além dos flocos de neve que cai. Os flocos de neve
caindo, adornavam as calçadas, marquises, árvores, carros, abrigos dos
transeuntes e seus gorros ao estilo de Van Gogh. É agradável ver, sobretudo
aos guris lançando bolas de neve uns aos outros e o sorriso de felicidade
que circula no ar.
A visita vem para ensinar-lhe as primeiras letras, falar e recitar poesia,pois acredita com esse aumentará a potencialidade de sua personalidade.
Gostava desses encontros e ausência e presença, já forte em seu interior.
A primeira vez trouxe pedaços de papel com fragmentos de poesia de
inúmeros poetas de toda parte do mundo. E escrito com sua bonita
caligrafia. Então, disse “é para que conheças alguns dos poetas mais
reconhecidos de todo o mundo hoje em dia” Estas pétalas que vinham do
coração das pessoas que haviam sofrido, inclusive maravilhosas na utopia,
como lhe disse acerca da vida e obra do poeta brasileiro chamado Vinicius
de Moraes. Comentando sobre seus amores e suas dores, suas canções e
sua contribuição como artista e pessoa, ajudando a impulsionar a vida e
obra de outros cantores e poetas, não somente em seu país. Também
aprendeu sobre Lorca, Pessoa, Prevert, Torga, Ibarbourou, entre outros,
e os amou até entender as batidas de seu coração espantado.
Conheceu sua professora no aeroporto, tinha muita sensibilidade,
gestos carinhosos e amáveis. Disse viver da aposentadoria antecipada
por razões dos anos de chumbo em seu país. Uma ditadura que lhe
arrebatou a vida de amigos e seus seres mais queridos, inclusive sua filha,
que nasceu da tortura, a qual abandonou forçada que foi ao exílio. Nas
mãos de Vivian há um pedaço de papel, o mesmo papel que a mestra lhe
havia dado para ler em sua chegada ao aeroporto, na primeira vez em que
se conheceram e ela disse sentir muito porque nunca aprendera a ler. A
mulher olhou profundamente em seus olhos, na grandeza de sua pele e
convencida de seu papel, disse-lhe "Serei sua professora e lhe ensinarei a
ler”. Isso fez. Nesse exato instante das mãos de Vivian assoma um papel
que diz: Filha amada, sou sua mãe! Por Deus, és vitoriosa!
A última vez que as vi ternura transbordava.
( Páginas 230 a 232, da Antologia em Verso e Prosa, 2014.
Autores do Centro de Literatura
do Museu Histórico do Exército e Forte de Copacabana)
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