MNINE D'SANVICENTE
SÉRGIO FRUSONI
E j'a a m'bá e já m'bem i
já m' tornar bá e torná bem
E ali'm li, de pê na tchôm
Sem um vitem, sem um tstôm,
tâ crê torná bá...
Ma pa torná bem.
Tradução
Já fui e já regressei
já tornei a ir e tornei a regressar
Aqui estou de pés no chão
Sem um vintém, sem um tostão
A querer ir...
E tornar a regressar
Com o intuito de publicar em vida o livro Sanvicente crioulo, Frusoni, logo no poema "Presentaçom", assume sua identidade de caboverdiano e sanvicentino:
Quem mi ê? Um fidje de Sanvcênte.
Nascide, crióde, lá na ponta d' Praia.
Lá ondê que mar tâ sparajá debóxe de bôte,
moda barra dum saia.
Cs' ê que m' crê? Cantá nha terra!
Companhal na sê dor;
na nôbréza d' sê alma;
na pobréza d' sê vida!
Tradução:
Quem eu sou? Um filho de São Vicente.
nascido, criado, lá na Ponta da Praia.
Lá onde o mar se espreguiça debaixo dos botes,
como a barra duma saia.
O que eu quero? Cantar a minha terra!
Acompanhá-la na sua dor;
na nobreza da sua alma;
na pobreza da sua vida!
Esta é a proposta da obra. Os poemas autobiográficos "Nha coraçôm", "Mnine d' Sanvicente", "Pracinha", "Igreja D'Nossióra da Luz" continuam a delinear o retrato do poeta caboverdiano e de sua amada terra:
Nha coraçôm ê dum rapaz de vint'óne:
êl tâ rí, êl tâ chorá, consoante êl crê.
Se dá'l pa cantá, êl ê italióne,
pa quêl sangue quêl herdá quand' m'nascê:
Se dá'l pâ chorá, êl ê caboverdeóne
(Meu coração é dum rapaz de vinte anos:
ri, chora, consoante ele quer.
Se lhe dá para cantar, é italiano,
por aquele sangue que herdou quando nasci
Se lhe dá para chorar, é caboverdeano)
BIOGRAFIA:
SÉRGIO FRUSONI: nasceu em Mindelo, em 10 de agosto de 1901. Morreu em Lisboa em 29 de maio de 1975. Filhos de pais italiano, era um poeta de Cabo-Verde. Em 1960 dirigiu o grupo de teatro o " Theatro Faz Castilho", em Mindelo. Segundo Corsino Fortes : "Sergio Frusoni colocou a mulher no centro da sua poesia, apresentando-a como a fiel depositária da perpetuação da espécie e dona do condão de resolver todos os problemas, mas sempre com dignidade". Segundo Simone Caputo Gomes: "A obra de Sérgio Frusoni, poeta caboverdiano que optou pela adoção do crioulo como língua literária, merece um estudo específico que, pelas dificuldades até então encontradas no trabalho com os textos na língua originária de Cabo Verde, ainda não foi feito".
E continua: "Frusoni é, pois, praticamente, um dos principais escritores que dão ao crioulo dignidade poética escrita, visto que no seu tempo a língua originária transmitia fundamentalmente mornas e coladeiras.
Influenciada pelo movimento da Claridade, que pensa a sociedade e a cultura como diferenciadas de um modelo colonial, a produção poética de Sérgio Frusoni recolhida por Mesquitela Lima compõe-se de 78 poemas, dos quais 15 sonetos (4 em português, 1 em inglês), escritos no crioulo de S. Vicente e acompanhados das respectivas traduções literárias em Língua Portuguesa, elaboradas pelo poeta. A maior parte dos poemas não apresenta métrica ou rima, à exceção dos sonetos, que não examinaremos, pelo motivo acima apontado. Muitos dos poemas em crioulo foram utilizados como letras de morna. Seus temas básicos são, como já enunciamos, a fome, cenas do quotidiano de S. Vicente, o apego à terra, a emigração/evasão (por melhores condições de vida) e o regresso (para acabar na miséria), a problemática do mar (que não é a mesma em todas as ilhas)".
Fonte;
Pt.wikipedia.org/wiki/sergio-frusoni
Fonte;
Pt.wikipedia.org/wiki/sergio-frusoni
professora a nossa revista literaria ta muito bonita to gostando muito de ter a minha pesquisa aqui na revista
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