Foto: ADELA FIGUEROA PANISSE-GALIZA
I-
ENTREVISTA A ESCRITORA ADELA FIGUEROA
“CURRA” (GALIZA) AOS ALUNOS DO CIEP 121- PROFESSOR JOADÉLIO CODEÇO-
MARAMBAIA-SÃO GONÇALO-RJ
1-DIANA M. DE AQUINO (TURMA: 901/2014): a) O que levou você a ser poeta?
R:Comecei a escrever poesia pela necessidade de comunicar as
minhas emoções. Sendo estas fortes e ,na altura, sentir eu a necessidade d’as
partilhar com a gente. Mas sempre cri que eu não era capaz de fazer uma poesia
até que saiu de mim a primeira: Desabrochou a primavera no livro Vento de Amor
ao Mar.
Desabrochou a primavera
No seu dia,
Pontual
Mas a semana quebrou
E o tempo partiu
Em dous:
A lua guia as bombas
E a luz ilumina
A noite de Bagdag.
A noite
O escuro.
No nome de Deus uns matam
Outros morrem
Pelo estoupar de bombas intelixentes.
Quem devolverá o riso aos nenos?
Quem lhes devolverá o tempo
E a vida,
A Shafiya,a Ahmed
Que brincavam no pátio?
A John, A Charlie’,seu avião caiu.
2- ARIANE B. MOTA DA SILVA (TURMA 901): a) Como você
começou a fazer poesia?
R: Foi o grande impacto que me produziu a Guerra do
Iraque que eu sentia desnecessária e cruel. Também eu estava muito afetada pelo
desastre do Prestige, barco cheio de fuel que deitou tudo o seu lixo poluente
diante da Galiza. As nossas costas ficaram negras e fomos muitos voluntarias/os
para limpar as praias e , ainda denunciar o
Governo da Espanha e da Galiza por tentar ocultar o que nos víamos como
os nossos olhos: praias e rochedos cheios de fuel(chapapote) e o governo a
dizer que tudo estava “esplendoroso” para não fazer nada e ocultar a sua má
gestão do acidente. Essas lutas partilhadas com as companheiras e colegas
ecologistas e outros fizeram levantar em mim a sensibilidade e a necessidade de
comunicar os meus sentimentos.Destes fatos nasceu Vento de Amor ao Mar o meu
primeiro livro publicado de poesias. Logo nasceu também a necessidade de
comunicar o meu interesse pela problemática da mulher, nomeadamente aquela que
faz referência ao mau trato e ao desamor. Foi A Xanela Aberta.
3- JÉSSIKA LIANDRO DE SOUZA MELO (TURMA 901):
a)Sua vida sem poesia, como seria?
R:Eu descobri a minha capacidade de fazer poesia
muito tarde. Antes nem imaginava que eu
pudesse fazer um só verso. O fato de arriscar e romper a barragem
emocional que me impedia essa forma de expressão fiz-me muito bem. Agora faço poesia
por qualquer coisa: as cerdeiras em flor nesta primavera tardia mas bem
florida, as prostitutas que “trabalham” perto de onde eu moro, o passar do
tempo, a raiva que me invade por ver tanta injustiça, o mar que me embalou de
meninha e me fascina sempre, as montanhas e os rios da minha Terra que é
formosíssima e muito variada, etc. Só espero poder melhorar a minha escrita e
poder comunicar melhor as minhas emoções, os meus sentimentos.
b) Quais poesias marcaram sua vida? Por quê?
R: As de Rosália de Castro, indubitavelmente.Toda
ela. Também Curros Enrriquez poeta muito musicado em galego, social e rebelde,
ainda Pessoa tem coisas geniais:
Da minha aldeia veio quanto da terra se pode ver no
Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura... .
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura... .
Poetas atuais, galegas há muito, Hoje há muita
poesia em Galego e bastante boa.Como
Marica Campo que gosto imenso.Ou Iolanda Aldrei, Maria do Vigo, etc.
Mas eu gosto especialmente da poesia que pode ser
musicada. Aquela que leva a música dentro do poema. E, ainda, aquela que me diz
algo.Nomeadamente aquela que tem valor social. Todavia também gosto da
intimista. Participo em varias revistas de poesia na Galiza, como Xistral,
4- LAYLA MATTOS DE OLIVEIRA (TURMA 901):
a) Por
que escolheu a profissão que tem?
R: Eu são Bióloga. E
Fui Professora por mais de 35 anos. Fiz o meu mestrado em Educação Ambiental, e
também o meu grado em Genética do Girassol( Helianthus Annus) e o meu
doutoramento em Origem da Vida e Evolução Cósmica.
Amo a vida. Gosto imenso da poesia do vivo.
Costumo a dizer que a vida é esse algo contagioso que tem a capacidade de se
estender por toda parte e vencer todos os “atrancos”( dificuldades e retos) em que o ambiente a coloca. A vida é mesmo
poesia. E o Universo canta com a sua música particular das estrelas até o
vibrar das moléculas. Nós, apenas temos
que nos deixar mexer no seu ritmo.
b) As
pessoas te julgam por ser poeta?
R:Não me sinto julgada.
Somente eu quisera saber fazer melhor a minha poesia para chegar ao coração das
pessoas e abrir um canal de comunicação no campo dos afetos e dos sentimentos.
Isso é o que eu considero importante: O mundo dos sentimentos. Os seres humanos
são biologia sensível e afetiva. O que move a toda a gente são as paixões: O
amor, o ódio, a inveja, a simpatia o medo, o prazer da estética, a
criatividade...
5- LISLANE DOS SANTOS ALVES VIEIRA (TURMA 901):
a) Sobre
o que gostaria de escrever como algo novo?
R:Nada há de novo sobre
a Terra e sobre o ser humano. Já os gregos interpretaram as paixões e as dores
da humanidade como ninguém voltou fazer. Numa cova do sul da França já apareceu
uma flauta de mais de 40.000 anos junto pinturas nas paredes. O ser humano
sempre teve a necessidade de fazer arte para abrir caminhos de expressão para o
mundo do espírito. Mas na minha estadia no Brasil, descobri o mundo riquíssimo
da mestiçagem que a biologia , de sempre, tem valorado como muito positivo, e
que eu acho culturalmente muito criativo e enriquecedor. Creio que na América
do sul há um forte potencial criativo.Isso poderia ser algo novo para mim que
venho duma terra muito homogênea racial e culturalmente falando.
6- MAICON DOUGLAS C. DE MELO (TURMA 901):
a) Quantos
livros você já fez?
R:De criação literária apenas 6.( Um fica a espera
de ser editado) Mas tenho escrito livros de texto para estudantes e muitos
artigos acerca da problemática do ensino, em geral e do ensino das ciências, em
particular.
b) b)
E qual de seus livros você mais gosta?
Por que?
R: Todos os livros são
um pouco como filhos. Embora há uns com que a escritora sente mais
identificação. Um que está para ser publicado : Atlântida, Mulher d’água, gosto
mesmo. São relatos mais ou menos curtos misturados com poesias que referem
estórias de mulheres que cruzaram o oceano Atlântico por uma ou outra ração .
Também alguma poesia é sentida como mais intima e achegada.
7- MAXSUEL HENRIQUE NERI DA SILVA (TURMA 901):
a) O que te inspira a fazer poesia?
R:Tudo me inspira: As injustiças, a beleza espantosa
do mundo, o florir das árvores na primavera, o rir dos meninhos particularmente
do meu netinho, uma estória dramática, a morte,
de meus pais, por exemplo, o amor ,a dor das pessoas mal tratadas pela
sociedade ou a vida,etc. O mau trato ao ambiente e o drama da vida,em geral.
c)
Para você o que é poesia?
R: É um canal de comunicação entre seres
humanos. É uma necessidade que nasce no ninho dos sentimentos. É a necessidade
de partilhar com os outros/as as nossas sensações os nossos problemas ou os
problemas de outrem. É uma paixão que precisa de se libertar para que outro ser
humano possa a apanhar e partilhar. É amor em geral: a humanidade, a alguém, a
Terra, ao amor e a genreira...
8- DAVISON DOS SANTOS (TURMA 901):
a) Como você
se sente quando termina de escrever uma poesia
R: Por dizer a verdade
sinto-me muito a vontade. Logo tenho de voltar lá para rever, para recolocar as
palavras, ou apagar aquilo que não gosto. E, ainda, sinto a necessidade de lha
contar a alguém, mas nem sempre encontro a quem. Por isso creio que os recitais
poéticos têm tanto sucesso. Porque as/os poetas gostam tanto desses encontros
em que lêem as suas poesias e escutam as de outros/as.
b) Você já escreveu uma poesia sobre a sua família?
R:Escrevi varias: A meu
pai, quando ele morreu e a minha mãe. Também uma dedicada aos meus filhos.
Escrevi um livro de contos para crianças dedicado ao meu netinho que contém
muitas poesias. Estas foram musicadas pelo outro avo que sabe música e
conseguimos fazer um CD com as canções do livro: O Rei da Floresta
c) Você já tentou fazer
um filme com a sua poesia?
R:Não sou eu tão
importante. Mas, com modéstia, sim que gostaria. O que acontece é que não tenho
conhecimentos de filmografia.Nem ninguém se interessou,ainda pelos meus
escritos.
9- MATHEUS LOBO GOMES LEITE (TURMA 901):
a) Qual
foi um dos seus primeiros poemas que a senhora ficou mais emocionada?
R: Cuido que Faluya,
Também Aos meus filhos:
Gardai meus fillos
todo o que recibisteis.
Nom com fecho
Nom no escuro.
Desabrochai, abride
Para ver a luz do sol
Que sempre escoa
por entre as nuvens.....
(Em Vento de Amor ao
Mar)
10) THAMIRES SOARES DE SOUZA(TURMA 901):
a) O que
procura expressar quando escreve esses seus livros?
R:Os meus sentimentos e também sensibilizar para os
problemas que vejo que afetam ao mundo. Nomeadamente a aqueles menos
favorecidos. Também chamar a atenção para a beleza do Mundo.
e) Pensa
em viver algo novo?
R: sempre penso n’ algo
novo. Estou prestes a ser surpreendida permanentemente pela vida e as pessoas.
11) JULIO CESAR DA ROCHA PACHECO (TURMA 901):
a) Você era sempre determinada a conseguir o que
queria?
R: sempre lutei pelos meus ideais. : O meu idioma o
Galego , ainda desprezado, um ensino democrático, participativo e criativo, a
divulgação cientifica, a ecologia e o cuidado do ambiente, os direitos humanos,
etc
b) Alguém
já zombou de você pelos seus sonhos de Escritora?
R:Pode que na minha
casa. Os meus filhos troçam algo com a minha “ambição”para ser uma escritora o
melhor possível. Também durante a minha etapa de casada e de criar os filhos
senti-me constringida e limitada. Creio que não ousava manifestar a minha
necessidade de escrever. Sem que ninguém tiver culpa deste sentimento. Logo foi
desabrochar e agora não quero que aquela janela que foi aberta fique mais nunca
fechada.
12- JHONNATA HENRIQUE (TURMA 901):
a) Qual
é o seu modo de mostrar o seu poema para o mundo?
R: Gostaria de saber
declamar, cantar e musicar os meus poemas. Mas nem sempre uma pode fazer o que
quere. Eu gosto muito de cantar, mas não sei fazer música e isso me
falta.Também admiro a obra gráfica. Eu trabalho sempre com uma minha amiga
pintora e grande artista: Celsa Sánchez Vázquez que ilustra o que eu escrevo.
As vezes eu escrevo para as suas pinturas. Trabalhamos numa espécie de simbiose
artística..
Gosto das manifestações
de arte integrada: Música, poesia, pintura.
Na Eira da Xoana( uma
casinha que a minha Associação Ecologista, tem no campo) fizemos uma dança
ritual de amor á Terra: chamada Aturujo á Terra-Grito pela Terra. E diz assim:
•
Dança ritual para a Terra no dia da Feira
Literária na Eira da Xoana(22 de março):
•
•
ATURUJO PELA TERRA
•
•
O
nego se revolta
•
Quere
revoltá
•
O nego se revolta
•
Ah! Ah!
•
•
O
indio se revolta
•
quere revoltá
•
O Indio se revolta
•
Ah! Ah!
•
•
Mestiço
se volta
•
Quere
revoltá
•
Mestiço se revolta
•
Ah!Ah!
•
•
Galega
se revolta
•
Quere
revoltá
•
Galega
se revolta
•
Ah! Ah!
•
•
O
Povo revoltado
•
Sempre
vai ganhar
•
O povo revoltado
•
Ah! Ah!
•
•
O
Povo revoltado
•
Ga-nha-ra!
13- LIVIA SÁ LIMA (TURMA 901):
a) Como
você descobriu esse dom de escritor(a)?
R:sempre tive essa
inquietude. .Mas o que eu não sabia é que tinha força para me exprimir
literariamente. Foi só quando encontrei dentro de mim a segurança e a força que
deixei sair o que levava no meu interior. E saiu o primeiro dos meus livros:
Vento de amor ao mar. Logo julguei que já não mais queria fechar aquela porta e
fez A Xanela Aberta, dedicada sobre todo ás mulheres. Começa assim:
Abre a xanela Maria
Deixa entrar a luz do
dia...
..................
14- NATHAN DA SILVA DOS SANTOS (TURMA 901):
a) Qual
livro mexeu mais com o seu coração?
R: As obras completas de Rosália de Castro e os seus
cantares galegos.
Das minhas obras, Madeira de Mulher. Contos em que
pretendo tratar da problemática da mulher e da sociedade em geral
b) Qual
dos seus livros demorou mais para se fazer?
R: Madeira de Mulher. Também ando com um romance que
leva vários anos a espera de eu tomar conta dele a sério. Tenho um livro de
contos acabado que busca Editora.
15- IRANILSON L. G. LEITE ( TURMA 901):
a) Qual
foi a sua reação quando no início da carreira seus poemas começaram a ser
reconhecido?
b) R:
Nem tenho a certeza de serem meus poemas reconhecidos. Tenho muitas amigas
entre as poetas que gabam a minha obra, mas eu vejo outras poetas bem melhores
do que eu. Se assim for eu ficaria surpreendida.
c) E
como foi a publicação do primeiro livro?
Teve algum problema na publicação?
R:Na
altura um mecenas da Galiza que apreciava muito tudo aquilo feito para a nossa
Terra, e tinha a Editorial do Castro( uma das mais prestigiadas) ajudou-me:
Mostrei
os poemas, gostou e publicou. Era uma pessoa extraordinária Issaac Diaz Pardo
que tudo deu para Galiza. Infelizmente ele já morreu e Galiza perdeu um dos
seus filhos melhores.
16- GABRIEL DA SILVA (TURMA 901):
a) Qual
das sua obras, a senhora acha que impactou a sua vida?
R: A última que ainda
não foi publicada: Mulherd’água.
Começa com um poema a
minha mãe( que era uma grande desportista e nadadora) que reproduzo:
Para Adela Panisse, Minha mãe.
Entre as pingas da salgada
Água do mar, flutuas
Etérea ,leve, consistente,
Em quanto
As ondas do Orçam tenazmente cruzas.
Ouh Mãe!,
Trouxeste o mar á montanha
Entre as voltas dos teus riços
Dourados.Mãe atlântica,
Mãe d’água,
Ictia faemina,
Mulher peixe.
Baleia branca inalcançável
Bondosa e esquiva
A contar estórias de mar.
Contos novos
Transcendentes, divertidos,diluídos
No Atlântico , líquido oceano
Das tuas rias.
Antes de ir navegar
Era teu corpo dinâmico,
Rotundo e formoso
Um peirão em que abeirar.
Ancoradouro seguro
protetor
Salvador dos náufragos, teus filhos.
Eternamente perdidos
entre complicadas subtilezas
Que agora tu já
lhes não vais podes
ajudar
a simplificar com a tua lógica “aplastante”
sempre a olhar para adiante .
(Quem não arrisca não cruza a mar)
Mulher d’água,
salva-vidas
Em que nós nunca iríamos naufragar.
Orfos de ti por cá ficamos
Contigo sempre a nadar
Na barca em vela
Do teu colo protetor
Feito de escuma e de sal.
Ficarás em Riaçor ,
Deitada ao sol
Qual Walkiria oceânica
17-TAUANE EMÍLIA DE SOUZA JACÓ(TURMA 901):
a) Qual
é o seu poeta preferido?
R:Já disse , Rosália de Castro. É imensa nunca
termina.Gosto também das cantigas dos cancioneiros medievais, que na Galiza
sempre estão a ser recriadas e atualizadas á modernidade.
18- AMANDA DA SILVA FARIA (TURMA 901):
a) Como você
vê a Literatura no seu país? Por
quê?
R:Na Galiza a
literatura está num momento de grande viçosidade, criatividade.Mesmo, eu diria
explosiva. Há poetas por todo lado. E, ainda bons,e boas. Mas, neste momento de
grande crise econômica, o que não há é mecenas para publicar. Começa a se
estender a prática da auto-publicação, que acho muito boa.
21- RHUAN NEVES DA SILVA (TURMA 902):
a) Você
gosta do lugar que escolheu para morar? Ele já lhe inspirou um poema?
R: A Galiza é a minha Terra. É muito formosa,
variada e rica em produtos de todo tipo. Mas é uma sociedade muito complicada e
difícil de se adaptar a ela.
Pode ser muito amável de principio, mas é dura para
o convívio mais demorado. Mas é a minha Terra e do que eu gosto. A minha
língua, o galego é uma língua linda e cheia de matizes e as nossas paisagens
são diversas e muito lindas. Embora, para os tamanhos do Brasil resultem
pequenas. Tudo é pequeno no meu País.Ainda os pôr-do-sol são magníficos.
b) Qual
é o nome do seu primeiro livro? E sobre
o que trata?
R:O meu primeiro livro foi Vento de Amor ao Mar. É
de poesia e foi inspirado como revolta contra a poluição dos nossos mares e
também pela guerra de Iraque que achei injusta, violenta e desnecessária.
22- STEFANIE FERNANDES GUEDES (TURMA 901):
a) Como
você se sente em ser escritora? Em
coordenar edição de livros? Ser poeta e
escrever livro é muito difícil?
R: Tudo
isso faz-me sentir bem. Sinto que estou a dar a luz algo vivo que vai ter
existência própria depois de que eu o deixe voar e sair do prelo.
c) O
que você pensa sobre a questão de gênero, isto é, a violência contra a mulher?
R: Trato isso em quase
todos os meus livros. Acho que é um problema de poder. Um grupo sobre outro. Um
grupo de seres humanos( mulheres, meninos, escravos) deixam-se dominar por
outro grupo( homens, patrão, etc) porque nem imaginam a possibilidade de serem
livres e dignos de terem um vida própria. E, doutro lado , os dominantes acham
que é “normal” exercerem essa dominação que lhes é dada por “direito”., por
tradição.
A dignidade da mulher
como ser humano não e diferente da dignidade do escravo/as, ou do operário
abusado pelo patrão. Mas leva tempo a interiorizar este sentimento e exercer de
pessoa livre.
23- THAIS DA SILVA (TURMA 901):
a) Com
quantos anos você escreveu o seu primeiro livro ou poema?
R:Com 54
25- WALLACE LUCAS DE S. FIGUEIREDO (TURMA 901):
a) Já
teve alguém que você amou muito e quis escrever sobre ele?
R:Sim. E não era meu
namorado. Apenas um grande amigo que perdi.
Vai a poesia que fez
para ele:
QUEN FOSE VELA! Do livro A xanela aberta. Musicado por Fernando Gómez
Jacome.
Se eu fose vela
E o vento a soprar
Levaria a tua alma a voar.
Voaríamos juntos
Por cima dos rios,
dos prados, dos vales,
e o vento a soprar.
Alem dos muinhos
que eriçam os montes
retando ao mar.
Aih ! se ti fosses vela
E o vento a soprar
Sentiríamos xuntos
A forza do vento
Nas ventoinhas zoar.
Imaxina se foses velinha
viaxeira
E te deixases levar,
A tua mau na minha
Ou abrazado ao meu van:
Cantas maravilhas poderíamos xuntos olhar!
Sempre que o vento
estivese a soprar...
Se eu fose vela
E o teu alento a soprar
Iríamos xuntos voar.
Sopra vento sopra:
Traz o meu amor
E axúda-mo a arrolar
Que em canto ti sopres
Eu ei de cantar
26- MATHEUS FONSECA (TURMA 607-CMIBO):
a) Gostei
muito do seu conto “Quilmas”, e
“Esquecimento”, ambos, em MADEIRA DE MULHER, eles são muito bons, e fizeram a
aula ficar muito boa: a minha pergunta é, o que você pensa sobre o Feminicídio?
R: Feminicidio,
suponho eu que quer dizer eliminar as mulheres. Mas estas nem podem ser
banidas, assim quanto os homens. Quilmas representa um povo que fez uma luta
heróica contra uma fábrica de piscicultura que queria se instalar lá. Deixaria
o povinho afogado entre os plásticos negros que recobrem as piscinas dos peixes
e a estrada. Desde Quilmas vê-se o cabo de Fisterra( o Fim da Terra). É um
lugar formoso e único.
Acabar com esse pequeno povo , débil e indefesso é
como lutar David contra Goliat. Também a luta das mulheres por serem alguém ,
pessoas dignas, companheiras dos homens tem muito de heróico, e de revolta
contra poderes já estabelecidos tradicionais:
“sempre foi assim, e compre agüentar”
Qilmas revoltou-se e conseguiu parar a piscicultura
que ocuparia as suas Terras. Os mais débeis têm de lutar pelo seu lugar no
mundo.Nesta poesia feita no estilo das antigas cantigas, creio que digo o que
penso acerca do amor possesivo que pode matar:
MATEI-A
POR QUE ERA MINHA
(Adela Figueroa Panisse)
Matei-a
por que era minha
Mais
ela não o sabia
Minha
amiga.
Ao
rio das águas bravas
Fui
por ver a belida
Meninha,
mais ela não vinha
Minha
amiga.
E
eu em pânico crescia
Ao
pé da fonte belida.
Cuidava
eu do ela estava
E,se
viria,
Minha
amiga.
Ao
pé da fonte lavada.
E
eu não a via.
Coitado
eu esperava e pensava
Em
mia amiga.
Que
com outro ela estava
E
folgavam,
E
eu com medo temia,
Que
de mim se burlavam
Em
quanto me traiçoavam.
Ainda,
ela o amava.
E
ciúmes fortes eu tinha
E
grandes tormentos queimavam
Minha
entranha.
E
eu em raiva penava
E
cuidava
Que
a meninha formosa era minha
Mais
noutros braços estava
Todavia.
Com
outro amor a belida
Gozava
E
falava
E
era grande alegria
Que
ambos os dois traziam.
E
eu de genreira,
Cego
dos olhos ia.
Na i-alma raiva viva..
________
Pela beirinha do rio
A
minha amiga cantava
E
onda mim caminhava
Em
alegria.
E
a belida não cuidava
A
raiva que, duramente,
No
meu coração doente
Eu
alimentara.
E
minha amiga cantava,
Em
quanto,
flores de cores cortava
e
as deitava,
Na
fonte belida.
E
minha faca afiada
Vermelhas
flores fazia
No
verde leito de ervas
Em
que a minha amiga,
Inocente
para sempre,
Já
dormia.
Pois
eu cuidava que ela era minha.
b) O
que você pensa sobre os escritores
brasileiros? Por quê?
R: Conheço algo. Jorge Amado, gostei imenso, Clarice
Lispector, fiquei chocada com o seu. A paixão segundo GH. Pareceu-me uma obra
completa, interessantíssima, Guimarães Rosa de fortes laços com a Galiza, ou
Nélida Piñon que é Galega de nascimento e agora vai ser reconhecida pela
Academia Galega como membro de honra. Também Cecília Meireles, que conheci
agora pelo encontro de escritoras e adorei os seus versos. Em geral o Brasil,
sendo um país tão grande e diverso, está a produzir uma literatura também
diversa e numerosas. Brasil é um País em
efervescência com um grande potencial quer econômico quer demográfico e isso
vai dar uma grande produção literária igual que de outras muitas cousas. Eu
admiro a potencia do Brasil, a sua mestiçagem de raças e culturas. Isso é muito
enriquecedor.
c) O
que representa para a senhora este seu livro “ MADEIRA DE MULHER”?
Creio que é algo autobiográfico. Nem tudo ele, mas
sim uma grande parte. Também representa muito do meu pensamento acerca do
mundo, nomeadamente do mundo das mulheres.
27) VANDA
LÚCIA DA COSTA SALLES (Professora de Língua Portuguesa e Produção Textual):
Querida escritora Adela Figueroa, desde já, em nome de todo o CIEP BRIZOLÃO
121- PROFESSOR JOADÉLIO CODEÇO-MARAMBAIA-SÃO GONÇALO, o nosso agradecimento:
muitíssimo OBRIGADA!
a) A pergunta é:Qual a importância da Mulher
Escritora nesse Século XXI? Por quê?
R: Acho que as mulheres estão mais e mais ocupando
seu lugar no “eido” da literatura, e , ainda, da criatividade em geral. Na
Galiza há muitas escritoras de idades menor de 40 anos o que indica que a
mulher vai conquistando pouco e pouco campos que antes lhe eram mais ou menos
vedados. Aparecem muitas poetas ou romancistas que fazem este labor com muita
naturalidade. Coisa que não era tão freqüente. Nós temos, na Galiza , o exemplo
de Rosália de Castro, grande vulto da nossa literatura. Quer pela sua grande
qualidade quer pela fortaleça de seu caráter e a excepcionalidade de ser uma
mulher a escrever, naqueles tempos do século XIX:
“Daquelas que cantam
as pombas e
as flores
Todos dim que têm
alma de
mulher
Mas eu que n’as canto,
Virge da
Paloma
De que a terei?
Curros Enriquez dedicara-lhe um poema muito
conhecido na Galiza:
Do mar pela ourela
Mireina pasar
Na fronte uma estrela
No bico um cantar
E vinna tan soia
Na noite sem fin
Que ainda chorei
Póla probe da tola
Eu que non tenho
Quen rece por mim......
.........................
Ai dos que levan na fronte unha estrela
Ai dos que levan no bico um cantar!
As mulheres conhecemos , mais do que ninguém, os
nossos problemas e a sua projeção cósmica. As mulheres temos mais facilidade
para conseguir uma visão global do mundo embora nem temos porque ser poetas das
pombas e as flores , mas de toda a problemática da humanidade. Eu sofri muito
de pensar como se iriam sentir as mulheres na guerra a ver os seus filhos
massacrados e desprotegidos, mas sofri mesmo também de ver a minha Terra
massacrada pelo egoísmo dos capitalistas que arrombam com todo sem nenhuma
sensibilidade( árvores cortados, rios sujos, prédios a serrem levantados para
especular sem ter em conta o ambiente que se destrói nem a necessidade de
habitação dos pobres). Também quero escrever acerca da prostituição e da trata
de mulheres, ou do mau trato dos fortes sobre os mais débeis, e disso sabemos
as mulheres.
No século XXI há mais mulheres a falarmos de
mulheres, embora também saibamos falar de homens, de crianças ou de problemas
sociais. E hoje isto é feito com muita mais naturalidade do que era antes, no
tempo em que eu era mais nova. Há toda uma geração de mulheres criadoras,
artistas que estão dando uma visão moderna do mundo através da sua literatura. Não
somos vistas já somente pela lente masculina, mas póla feminina também. O que
mostra um universo social muito mais rico e variado. Mais real, portanto. Por
isso considero importantíssimo o papel da mulher na literatura como, aliás, em
qualquer um dos outros campos da atividade humana.Porque a literatura é o
testemunho de seu tempo. E isto é já imparável.
Muitíssimo obrigada a todas/os os estudantes do CIEP
Brizolão e , ainda a professora Vanda Salles que me deu esta oportunidade de
conectar com estudantes brasileiras/os .Tambem forte saúdo e obrigada ao
professor Joadélio Codeço que facilitou este trabalho. Espero que esta
entrevista não resulte longa de mais e que seja o inicio dum caminho de
comunicação entre as duas beiras do Oceano Atlântico.A janela fica aberta, Não
a vamos fechar.
Acabo com uns versos de Rosália:
Se o mar tivesse varandas
Fora-te ver ao Brasil
Mas o mar não tem varandas
Meu amor, por onde hei d’ir
__________________________
Fico muito grata de vocês,
Adela Figueroa Panisse( Curra)-LUGO-GALIZA
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